Composição do Terra em Cena

O Coletivo Terra em Cena é uma articulação de coletivos de teatro, audiovisual e artes visuais que atuam em comunidades da reforma agrária, quilombolas e em meio urbano. É composto por professores universitários da UnB, da UFSJ, da UFSC e da UFVMJ, da rede pública do DF, por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da UnB e por militantes de movimentos sociais do campo e da cidade. O Terra em Cena se configura como Programa de Extensão da UnB, com Projetos de Extensão articulados na Faculdade UnB de Planaltina (FUP) e como grupo de pesquisa cadastrado no diretório de grupos do Cnpq. Um dos projetos é a Escola de Teatro Político e Vídeo Popular do DF (ETPVP-DF) que integra a Rede de Escolas de Teatro e Vídeo Político e Popular Nuestra America.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Reflexões de doutorandos do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

 Cena Padrão na VII Mostra Terra em Cena e na Tela - a pedagogia da opressão e sua insurgência por meio do Teatro Fórum

O professor e doutorando Pedro Ribeiro, que atuou como curinga na sessão de Teatro Fórum que marcou a estreia do grupo, registra o momento no texto abaixo. 

 

A cena “Padrão”, apresentada pelo grupo Encena Kalunga, emergiu como uma potente denúncia das engrenagens de opressão reproduzidas dentro de uma instituição educacional cívico-militar, marcada por normas rígidas e pela vigilância constante dos corpos. O enredo expôs a trajetória de uma jovem quilombola Kalunga em seu primeiro dia de aula, confrontada por um conjunto de regras que age como dispositivo disciplinar e evidencia uma estrutura social enraizada em uma política de segregação baseada em aspectos raciais: o uniforme obrigatório, o controle sobre a aparência, o policiamento do cabelo crespo e volumoso de uma mulher negra e a deslegitimação de seus elementos culturais (cultura kalunga). 

A cena articulou, de modo crítico, o entrelaçamento entre racismo institucional, elitismo e autoritarismo, evidenciando como a autoridade escolar se curva às hierarquias sociais representadas pelos filhos de uma advogada e de um deputado estadual, cuja denúncia direcionada à diretora reforça a lógica de que o poder econômico opera como atalho para definir quem é ouvido e quem é punido. Nesse embate, a estudante Kalunga e sua colega — ambas meninas negras — tornam-se alvos da tentativa de silenciamento, culminando em uma imagem congelada de opressão que não simboliza rendição, mas um estado limite de tensão, resistência e desejo de mudança.

A cena “Padrão”, de Teatro-Fórum, conduzida por Pedro Ribeiro e Rafael Villas Bôas nos papeis de coringas, transformou a opressão ficcional em campo de ação coletiva, abrindo espaço para que a plateia interviesse na realidade dramatizada. Dessa vez, não apenas se discutiu a violência institucional, mas experimentou-se alternativas de enfrentamento. A entrada em cena de Fernanda, doutoranda da Faculdade de Educação da UnB, desencadeou um movimento de insurgência: ela convocou aliados para denunciar e confrontar as imposições injustas da diretora e da estrutura escolar, provocando uma energia de mobilização que ultrapassou o palco e ganhou corpo no gesto do público, que se levantou e se colocou ao lado da personagem. 

O palco tornou-se, assim, território de reinvenção política, no qual opressões racializadas, classistas e autoritárias puderam ser criticamente tensionadas e reinterpretadas. A cena, produzida no âmbito da disciplina Pedagogia do Teatro do curso de Licenciatura em Educação do Campo (UnB - Planaltina/DF), ministrada pelo professor Rafael Villas Bôas, com colaboração do doutorando Pedro Ribeiro (lecionando conjuntamente a disciplina ao cursar Prática Docente com seu orientador), funcionou como ato de afirmação da cultura Kalunga e como exercício pedagógico de emancipação, reafirmando o Teatro do Oprimido como prática estética capaz de transformar espectadores em sujeitos coletivos de ação.

Apresentação da peça “Padrão” do grupo Encena Kalunga no Teatro Augusto Boal seguida de fórum e debate. Foto: acervo do grupo



Anotações sobre “Plataforma”, da companhia "Estudo de Cena", e o trabalho feminino sob a máquina capitalista 

Por Dhenise Galvão, doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília 

 

A peça Plataforma cria um espaço onde diferentes tempos do trabalho feminino se tocam sem pedir licença. As figuras das operárias da revolução industrial aparecem quase costuradas às trabalhadoras da era digital. A cena funciona como uma dobra. Passado e presente se enfrentam e se reconhecem. Nada vem organizado em linha reta. A narrativa escapa, volta, comenta a si mesma e revela suas engrenagens. A sensação de distanciamento, o modo como as atrizes nomeiam suas ações e a circulação entre ficção e realidade aproximam a peça da proposta brechtiana, algo que para mim ficou evidente ao longo de toda a encenação.

O espetáculo me trouxe outras associações pessoais. Em vários momentos pensei no filme “Dançando no Escuro”, de Lars von Trier. Talvez pelos gestos exaustos das personagens, talvez pelo peso industrial que repousa sobre tudo. Talvez simplesmente porque se trata de mulheres atravessadas por sistemas que exploram até o limite. O figurino sustenta essa aspereza. Ele fala de desgaste. De repetição. De sobrevivência.

Há um ponto decisivo na forma como a peça articula cena e tecnologia. O celular aparece como dispositivo dramatúrgico que molda ações, produz vigilância e condiciona a presença das personagens. Ele opera como mais uma máquina que observa enquanto observamos, instaurando um circuito contínuo de exposição, coleta de imagens e dependência que espelha a lógica tecnológica da vida contemporânea. Nada ali sugere neutralidade, o aparelho estrutura tanto a relação entre as intérpretes quanto o modo como o público é convidado a perceber aquela vigilância. A ideia que atravessa a obra está no “medo de não ser visível, o risco de desaparecer”, a vigilância que se mistura à economia e o patrão transformado em câmera e algoritmo.

Outra coisa marcou a experiência. A plateia quase inteira permaneceu atenta. Quase ninguém mexia no celular, o que é raro hoje. O assunto exposto no palco parecia impedir aquela fuga rápida para a tela. Eu mesma só cheguei a ver uma pessoa olhando o aparelho. Foi curioso perceber esse silêncio digital num espetáculo que fala justamente da captura da nossa atenção.

A peça não se propõe a uma narrativa pessoal, no entanto pequenas fissuras deixam ver vidas que tentam existir enquanto trabalham. Uma das personagens fala da filha. A chuva cai dentro e fora da cena. Há uma vibração emocional que atravessa tudo isso e que se mistura às questões mais amplas do trabalho. Mesmo sem contar uma história íntima, o espetáculo convoca o público a lembrar que todo corpo em cena é um corpo que trabalha, cansa, insiste. Saí com essa sensação. A de que todas nós somos arrastadas pela engrenagem. Mesmo quando não estamos numa fábrica. Mesmo quando pensamos que escapamos.

“Plataforma” não oferece conforto. Ela cutuca, mostra. Insiste para que a gente veja o que está diante dos olhos e o que escapa. É um trabalho que revela a paisagem invisível do cotidiano laboral das mulheres. Expõe os atravessamentos históricos. Faz a plateia pensar e sentir. E isso ficou evidente no interesse total do público durante a apresentação. A recepção foi de escuta, de concentração e de impacto. Um silêncio atento que dizia muito sobre a força do que estava sendo compartilhado ali.


Peça “Plataforma” da Cia Estudo de Cena. Fotos de Luara Dal Chiavon


“A Aurora”, da Cia. Burlesca 

 Por Dhenise Galvão

 

No Distrito Federal, a formação de plateia teatral ainda enfrenta resistências culturais, com parte do público associando o teatro a algo distante ou excessivamente comercial. Nesse cenário, espetáculos como “A Aurora”, da Cia. Burlesca, cumprem um papel essencial, ao oferecer uma experiência cênica acessível, politicamente engajada e esteticamente sólida, capaz de aproximar novos espectadores, inclusive crianças e jovens, de temas urgentes da realidade brasileira.

Apresentado na 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela, evento dedicado a obras que abordam o campo, os trabalhadores rurais, quilombolas, assentamentos e lutas agrárias, o monólogo “A Aurora” tem interpretação de Julie Wetzel e direção de Patrícia Barros e Lyvian Sena. A peça parte do livro “A Revolução de Anita”, de Shirley Langer, e constrói, a partir do relato de uma professora do campo, uma reflexão profunda sobre o direito à educação.

Julie Wetzel alterna cenas com fluidez notável, transitando entre momentos de leveza e tensão dramática. O espetáculo inicia com uma interação direta com a plateia, questionando as profissões dos sonhos de cada um, respostas que revelam aspirações comuns, como professor, bombeiro ou cantor, para, em seguida, confrontar essas projeções com a realidade de grande parte da população brasileira, para quem o acesso à educação é limitado e o futuro parece predeterminado.

No centro da narrativa está o poder transformador da leitura, do letramento e da educação popular como instrumentos de emancipação individual e coletiva. A atriz sustenta o monólogo com presença cênica intensa, valendo-se de um cenário minimalista e funcional, uma mesa que se transforma em vários espaços domésticos e simbólicos, abrindo compartimentos para livros e objetos que ampliam o universo da personagem.

Entre os momentos de maior impacto está a sequência ritmada com batidas no peito, acompanhando a canção “Front de guerra”, de Alessandra Leão, que reforça a ideia de uma luta cotidiana e coletiva pela dignidade e pelo conhecimento. Embora apresente um trecho mais expositivo ao detalhar a inspiração da história, a peça mantém o envolvimento do público até o final, quando se abre para um debate rico, no qual a atriz compartilhou sua recente experiência de apresentar o trabalho em Cuba.

Um diferencial importante é o material distribuído ao final, o folder com a “Biblioteca da Aurora”, uma compilação cuidadosa de referências bibliográficas, reportagens, documentários, artigos acadêmicos e links organizados por temas. O documento abrange educação popular, o método cubano “Yo, sí puedo”, o legado de Paulo Freire na alfabetização de adultos, experiências do MST, casos de censura literária no Brasil e reflexões sobre o direito à literatura, oferecendo ao espectador ferramentas concretas para aprofundar os debates propostos em cena.

“A Aurora” exemplifica o potencial do teatro local como espaço de resistência cultural e formação crítica. Ao aliar rigor artístico, pesquisa histórica e compromisso social, o espetáculo não apenas entretém, mas provoca reflexões necessárias sobre desigualdade, acesso ao conhecimento e transformação social. Uma obra potente, que reforça a importância de investir em produções que valorizem a inteligência e a sensibilidade do público.

Parabéns à Cia. Burlesca, à equipe e especialmente a Julie Wetzel por um trabalho consistente, acolhedor e profundamente necessário.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Reflexões de estudantes da LEdoC sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

Mostra Terra em cena e na Tela ocupa a Universidade

Vinicius Campos da Silva 

A disciplina de Projeto Experimental em Teatro I ocorreu em conjunto com a 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela, que aconteceu entre os dias 26 e 29 de Dezembro de 2025 na Faculdade UNB de Planaltina. A disciplina foi pensada para possibilitar nossa participação no evento construindo a mística de abertura e assistindo às peças, filmes, debates e oficinas. A Mostra Terra em Cena e na Tela é um evento organizado pelo grupo de pesquisa Terra em Cena e reúne grupos de teatro, professores, pesquisadores e estudantes de vários locais do Brasil para apresentar experiências pedagógicas, peças e oficinas de Artes Cênicas e Audiovisual.

Na noite do dia 26, a abertura da Mostra aconteceu com a lavagem da Faculdade UNB de Planaltina e o 2º Sarau da LEdoC, no restaurante universitário, e contou com apresentações musicais e poemas recitados pelos estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da UNB. O estudante da LEdoC Tainã Malta, apresentou um desfile com as roupas que ele desenhou, costurou e pintou, e as estudantes da LEdoC foram as modelos das roupas reafirmando nosso espaço e celebrando a cultura quilombola. Também foi apresentada uma cena de teatro muito forte do grupo Cenas Emendadas, que retratava situações de  violência contra a mulher em um relacionamento abusivo que evoluiu para uma cena pesada de feminicídio. O grupo de afoxé Omó Ayó encerrou o dia com muito amor nas mensagens, dança e ancestralidade.

No dia 27 e 28 aconteceram as oficinas de argila corpo e território, cineclube popular, muralismo na restauração de um mural que foi apagado durante uma reforma na Universidade, e iluminação e o trabalho da luz na cena. As duas manhãs de oficinas permitiram a construção de materiais, formações e vivências em diferentes áreas.

As mesas de debates ocorreram na tarde do dia 27 com os temas agroecologia e cultura, e conjuntura e estratégias dos movimentos sociais. Após as mesas o Coletivo Fuzuê apresentou a peça “Toró, ode à natureza ou quando ou crime acontece como a chuva que cai.” Que inspirado em fatos reais, traz questionamentos e contradições do desastre climático, sistemas de violência. Fechando a programação do dia, ocorreu a mostra audiovisual com uma seleção de curtas e longas criados dentro da rede Terra em Cena.

Iniciando a programação do dia 28, o grupo Encena Kalunga, criado por estudantes da LEdoC, apresentou a peça “Padrão”, uma peça de teatro fórum, que mostrou diversas opressões dentro do contexto de uma escola militarizada. A cena e o debate atravessou temas como a reprodução sistêmica do racismo mesmo inconscientemente, soluções como a organização e registro das violências como provas e a importância de uma rede de apoio na superação de situações de opressão. Depois, a mesa de devolutivas de pesquisas de pós-doutorado e de doutorado em andamento, mostrou experiências concretas de práticas pedagógicas e pesquisas contra hegemônicas. A mesa foi composta pelas professoras Ofelia Ortega, Carina Guimarães Moreira, Keyla Morales, Dhenise Galvão, Fernanda Rosas, Simone Menezes e o professor Felipe Canova.

Após a mesa, o grupo de São Paulo, Estudo de Cena, apresentou a peça “Plataforma, um experimento teatral.” Com um cenário muito inteligente, prático e futurista. Duas atrizes viajam em décadas diferentes, passando por diversas revoluções lideradas por mulheres da classe trabalhadora e construindo situações, diálogos e realidades a partir de fotos, que vão desde 1895, com o primeiro filme da história, que retrata “Operárias saindo da fábrica.” A fábrica é dos irmãos Lumière e o filme foi gravado por eles, o patrão filmando as trabalhadoras, que saem apressadas dos turnos exaustivos. A trama viaja no tempo e no espaço de forma épica, trazendo movimentos sincronizados, a fala curta e a troca sincronizada da atenção que é dividida entre as atrizes numa espécie de ritmo que me lembrou uma linha de produção da revolução industrial, juntamente com os sons e movimentos repetidos. A sonoplastia nos bombardeia com sons de notificações de aplicativos, que se misturam com vozes como rádio e tv, causando um desconforto, um super estímulo, que se compara com a experiência dentro da internet e nas redes sociais. A peça fala sobre desumanização e uberização do trabalho, a escala exaustiva de trabalho e relações de trabalho na perspectiva feminina, mostrando experiências reais que deram certo na história, liderados por mulheres, quase que um coro convidando para a organização e mobilização coletiva por melhores condições e realidades de trabalho. De forma engraçada e inteligente somos bombardeados de informações que nos fazem refletir o hoje e o futuro do trabalho.

No último dia da Mostra ocorreu a exposição dos banners das escolas do campo, criando um espaço de troca, de experiências pedagógicas nessas escolas de diversas regiões, construindo uma teia de conhecimentos e vivências. Também aconteceu a mesa “A escola do campo como centro popular de cultura.” Com as professoras Simone Soares, Clarice Santos, Eliene Novaes, Viviane Pinto e o professor Felipe Canova. Encerrando o evento, a Cia Burlesca apresentou a peça “Aurora” baseada na campanha “Sim eu posso” que erradicou o analfabetismo em Cuba, reafirmando o papel da educação como prática libertadora sendo fundamental na organização coletiva para a transformação social.

 

Imagem 1 (Abertura da Mostra e Sarau - 26/11/2025) Fonte: Arquivo pessoal

Imagem 2 (Oficina de cerâmica - 27/11/2025) Fonte: Arquivo pessoal


Imagem 3 (Peça “Padrão”, grupo Encena Kalunga - 28/11/2025) Fonte: Arquivo pessoal

Imagem 4 (Peça “Plataforma”, grupo Estudo de Cena -28/11/2025) Fonte: Arquivo pessoal


 Memória, resistência e coletividade: a mística na educação do Campo.

 Aimê Fernandes Monteiro

Ser estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) é viver muito mais do que um simples percurso acadêmico é atravessar processos formativos que transformam a pessoa, o corpo, a leitura de mundo, a relação com o coletivo e o entendimento do papel político da educação. É amadurecer, crescer e se redescobrir em comunidade.

Quando entrei na LEdoC, anos atrás, eu não imaginava o quanto essa experiência modificaria minha forma de ser e de estar no mundo. Se alguém me perguntasse, naquele início, se eu gostaria de apresentar uma mística, eu responderia prontamente que não. Eu não me sentia preparada. Meu corpo tremia só de pensar em falar diante de outras pessoas. Eu não tinha domínio da fala, nem confiança, nem coragem para ocupar o espaço que hoje ocupo.

Porém, quase quatro anos depois, olho para trás e vejo que já não sou mais a mesma. A LEdoC me atravessou de um jeito que nenhuma outra formação seria capaz. A mística, que antes me causava temor, hoje se apresenta como uma forma mais suave e transformadoras que vivenciei. Ela não é apenas uma apresentação artística, nem um simples ritual de abertura é um método pedagógico vivo, sensível, político e profundamente humano. Ele nos ensina a aprender com o corpo, com a coletividade, com as emoções, com a ancestralidade e com os símbolos que trazemos da vida.

Na disciplina de Teatro, compreendi de forma ainda mais concreta como a mística pode ser um instrumento de formação crítica. A nossa mística foi construída como um verdadeiro debate político, trazendo temas urgentes para o centro da discussão. Elaboramos uma apresentação que dialogava diretamente com as vivências cotidianas, com símbolos carregados de sentido e com aquilo que atravessa a realidade das pessoas que constroem a educação do campo.

Cada objeto utilizado tinha significado; cada gesto representava uma dor, um questionamento, uma memória ou uma resistência. Parte da apresentação envolveu leituras de jornais das últimas vivências, trazendo para o palco temas que estavam em pauta no país como a a repercussão da prisão de Bolsonaro, a segunda macha nacional das mulheres, as discussões ambientais e políticas em torno da COP30, além de reflexões sobre como esses acontecimentos atravessam o campo, a educação, as comunidades rurais.

Essa construção deixou evidente que a mística não é apenas um momento  de distração ela é um ato pedagógico de resistência, de consciência política, de formação crítica e de fortalecimento coletivo. Ao mesmo tempo em que exige entrega emocional, nos ensina que aprender não se limita ao racional  aprender é também sentir, elaborar, representar, simbolizar, denunciar e anunciar.

Ao atravessar essa formação, tornei-me uma mulher que estar aprendendo a não tem medo. Não ter medo de apresentar uma mística, de falar diante de uma sala cheia, de atuar em uma peça de teatro ou de expressar posicionamentos políticos quando necessário. O teatro na LEDOC não transforma apenas a técnica; ele transforma a pessoa por completo. Ele nos desloca, nos desafia, nos provoca e nos prepara para ocupar espaços que antes pareciam impossíveis.

Na minha turma, Lélia Gonzalez, vejo claramente como esses processos impactam cada estudante. O crescimento político, psicológico, emocional e social ficou ainda mais evidente durante a sétima Mostra Terra em Cena. Ao longo daquela semana, me permiti observar o percurso de cada colega. Percebi olhares diferentes, posturas mais seguras, discursos mais firmes e corpos que aprenderam a se expressar com significado.

Cada mística, cada cena de teatro, cada debate e cada símbolo revelava transformações que, por vezes, só são perceptíveis quando paramos para olhar com cuidado. E, naquele momento, compreendi uma das maiores lições da LEdoC: ninguém se forma sozinho. Nós nos formamos no encontro com o outro. Nós nos formamos um com o outro.

As experiências no audiovisual ma disciplina Experimento em audiovisual produção e finalização. também foram marcantes e ampliaram a minha compreensão sobre linguagem, crítica social e expressão criativa. Nas aulas do professor Felipe Canova, trabalhamos filmagens centradas em temáticas sobre moralidades da LEdoC, explorando como as narrativas se constroem a partir de vivências reais, do território, do campo e das relações que estabelecemos dentro e fora da universidade. Foi um exercício de observação, sensibilidade e análise política, porque filmar não é apenas registrar é interpretar, escolher o que mostrar, o que silenciar, o que enfatizar e o que denunciar.

Além disso, as oficinas oferecidas durante as vivências intensivas demonstraram o quanto a LEdoC é inclusiva e aberta à diversidade de saberes. As oficinas de barro, audiovisual e cerâmica proporcionaram momentos de descanso mental, lazer e expressão artística. Elas nos lembraram que o processo educativo também passa pelo fazer com as mãos, pelo toque, pelo silêncio, pela criação coletiva e pela ludicidade.

Uma das experiências mais simbólicas foi a oficina de muralismo, que possibilitou a restauração de um painel que havia sido apagado pela própria faculdade. Esse gesto se tornou um marco ao repintarmos o mural, afirmávamos que nossas memórias, lutas e existências não serão apagadas. Podem tentar apagar nossa história, mas não conseguirão. Onde houver apagamento, haverá reconstrução. Onde houver silêncio imposto, haverá voz. Onde houver tentativa de invisibilização, haverá reafirmação.

Durante toda essa trajetória, percebo que a formação na LEdoC é integral. Ela toca a mente, o corpo, as emoções, a política e a coletividade. É uma formação que não separa teoria e prática, razão e sentimento, indivíduo e comunidade. É um espaço onde aprendemos com o outro, para o outro e pelo outro. Um lugar onde cada pessoa carrega consigo uma parte do processo coletivo.

Estar na LEdoC é aprender que educação é luta, é memória, é resistência e é afeto. É acreditar que um projeto de país mais justo começa pela valorização dos povos do campo, de suas histórias e de seus modos de vida. É reconhecer que o conhecimento se faz no território, na experiência e no encontro.

Hoje, ao olhar para minha própria trajetória, percebo que deixei para trás aquela mulher que tinha medo de se colocar no mundo. A LEdoC me transformou. Me deu voz, corpo, coragem, consciência política e uma comunidade. 

Aimê filmando a 7º Mostra em tarefa da disciplina Processo experimental em audiovisual 1. Foto: Adonai.

Reconstrução do painel apagado na reforma do alojamento, em oficina de Muralismo com os professores Felipe e Ofélia. Foto: Aimê Fernandes


Mística da 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela. Foto: Rafael Villas Bôas


terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Reflexões de estudantes da LEdoC sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

Oficina de Mística como continuação da disciplina Processo Experimental em Teatro 1 da Ledoc/UnB em Cavalcante-GO

 Angela Lopes Caetano

A imagem mostra a ornamentação construída coletivamente durante a oficina, como parte das místicas elaboradas e apresentadas pelos dois grupos de educadoras. Créditos: Ângela Caetano         

A experiência de realizar a oficina de mística na Escola da Terra, em Cavalcante, no 2° Encontro de Formação do Programa Escola da Terra no Núcleo Quilombola, coordenado pelas professoras Eliene Novaes e Kelci Pereira, foi para mim uma continuidade concreta e viva da disciplina Processo Experimental em Teatro 1, da LEdoC/UnB, ministrada pelo professor Rafael Villas Bôas e pela professora Simone Menezes. Embora eu já tivesse participado de várias místicas na UnB e em outros espaços, a disciplina me provocou a olhar para essa prática de modo mais cuidadoso, entendendo-a como linguagem estética, política e formativa. Com as contribuições do professor Rafael, da professora Simone e dos colegas, fui aprendendo a perceber os gestos, os objetos, o silêncio, os símbolos e os sons como elementos que produzem sentido, formando tanto quem assiste quanto quem cria.

Essas reflexões dialogaram diretamente com minha leitura do verbete “Mística”, escrito por Ademar Bogo no “Dicionário da Educação do Campo”, que apresenta a mística como uma prática carregada de ancestralidade, memória coletiva e projeto político. É um espaço simbólico que convoca corpo, território, emoção e consciência, uma prática pedagógica tão séria quanto sensível.

Pouco antes de viajar para Cavalcante, participei da 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela, realizada entre os dias 26 e 29 de novembro de 2025. Conforme a Mostra acontecia, surgiam em mim muitas ideias e uma expectativa ainda maior em relação ao teatro. As cenas, os debates e os encontros me lembraram da potência dessa linguagem para provocar reflexão, despertar sensibilidade e transformar realidades. De certa forma, a Mostra influenciou a maneira como pensamos e vivemos a oficina.

Em Cavalcante, decidimos, de forma pedagógica, iniciar a oficina com uma mística preparada por nós, com o tema das discussões do encontro sobre Educação Escolar Quilombola. Para compor a cena, convidamos algumas colegas da própria LEdoC, pessoas próximas que já tinham alguma vivência com místicas, e explicamos detalhadamente o que aconteceria: quais gestos fariam, qual seria o percurso simbólico da cena e o sentido de cada ação. A mística exige organização: ela é séria, tem intencionalidade e envolve risco se não houver clareza entre quem a constrói. Nada nela é improvisado ao acaso.

Uma das partes de que mais gosto na mística é justamente o mistério que a precede. Antes mesmo de começar, cria-se uma atmosfera de expectativa, um silêncio curioso, uma sensação de que algo essencial está para acontecer. Esse mistério não é sobre esconder, mas sobre preparar o espírito para entrar em outra qualidade de presença, aquela que nos conecta com a memória, com o coletivo e com a própria luta. Ademar Bogo ajuda a compreender essa dimensão ao afirmar que o mistério da mística está em “saber a razão porque na luta as coisas extraordinárias acontecem” e em “por que desafiamos todas as forças e todos os limites para que uma causa coletiva seja vitoriosa” (BOGO, s.n.t.).

Depois da apresentação, conduzimos o jogo teatral do Teatro do Oprimido chamado Batizado Mineiro, que ajudou a quebrar o gelo, criar vínculo e aproximar as educadoras que participavam da oficina. Esse momento reforçou a dimensão da relação que atravessa tanto o teatro quanto a Educação do Campo: o encontro faz parte do conteúdo.

Na roda de conversa que se seguiu, ouvimos as experiências das professoras e percebemos que muitas já tiveram vivências com místicas em algum momento. Suas leituras sensíveis da mística de abertura mostraram que carregavam muitos saberes. Isso reafirmou algo central para nós na LEdoC: ninguém chega vazio. Cada participante traz consigo história, território e modos próprios de compreender o mundo.

Trouxemos algumas discussões e perguntas pontuais para ajudar a organizar a reflexão coletiva e aprofundar a compreensão sobre a mística. Falamos sobre o que é mística, qual é o seu papel, quais linguagens podem compor uma mística e o que costuma ser fundamental na mesma. Essas discussões ajudaram a ressaltar a importância da ornamentação do espaço, que não é apenas estética, mas parte da construção de um ambiente acolhedor e coerente com a cultura das pessoas presentes. Os objetos acionam memórias, evocam os ancestrais, anunciam ou denunciam algo que precisa ser dito, e é essa dimensão simbólica que sustenta a força da mística.

A criação coletiva das místicas foi um dos momentos mais marcantes. Dividimos o grupo em duas equipes, e cada uma teve meia hora para produzir sua cena. Mesmo com pouco tempo, as ideias surgiram com força, e a coletividade se fez presente em cada gesto e escolha. O mais bonito foi que as duas místicas, criadas separadamente, se complementaram: pareciam partes diferentes de uma mesma narrativa sobre memória, luta e esperança.

Ao final da oficina, realizamos uma última roda de conversa para ouvir as impressões das educadoras após as apresentações das místicas criadas por elas. As avaliações foram extremamente positivas e esse momento se tornou, para mim, um dos mais especiais. Elas se disseram satisfeitas, emocionadas e felizes com o processo, reconhecendo nele tanto um espaço de aprendizagem quanto de fortalecimento coletivo. Pudemos também refletir sobre a metodologia que utilizamos: iniciamos com a vivência da mística, seguimos com o jogo teatral para aproximar o grupo, depois aprofundamos as discussões em círculo — ninguém à frente ou atrás, todas com o mesmo lugar de fala e escuta — e, por fim, passamos à prática criativa em grupos, onde cada educadora teve liberdade para experimentar e propor. Essa liberdade também envolveu as crianças que estavam presentes, já que algumas participantes eram mães e seus filhos acabaram integrando espontaneamente o processo, dando outra dimensão à criação. A metodologia que adotamos reafirma o quanto nosso modo de fazer se distancia da lógica da escola tradicional, que separa quem “ensina” de quem “aprende” e ignora o território, a cultura, a memória e as relações.

Ao olhar para o processo, percebi que a oficina foi a continuidade natural da disciplina Processo Experimental em Teatro 1. O que discutimos em sala ganhou vida no território, no encontro com as educadoras da Escola da Terra.

A oficina de mística, portanto, não foi um momento isolado: foi extensão da disciplina, reverberação da Mostra e encontro com saberes do território. E reafirmou, mais uma vez, que a mística é capaz de formar, sensibilizar e transformar, tanto quem faz quanto quem acompanha.

 

          Reflexões que a VII Mostra Terra em Cena e na Tela me proporcionou

 Cleuzirene Moreira de Aquino

A 7ª Mostra do Terra em Cena me trouxe vivência e experiência além do que eu imaginei, optei por cursar a disciplina optativa “Processo experimental em Teatro 1” com o professor Rafael Litvin porque ultimamente estou pegando gosto pelo teatro, após descobrir na disciplina anterior “Pedagogia do Teatro” que o Teatro é vivo em nosso dia a dia.

Eu escolhi analisar a mística porque, em poucas cenas e gestos, ela deixou muitas das tensões que percorreram a Mostra: memória pessoal, atualidade política, técnica teatral e formação coletiva. Não foi um ato meramente ritual; foi um dispositivo pedagógico que articulou público e ator, cotidiano e espetáculo, a partir de operações simples de leitura, a disposição de objetos em cena, narração e, por isso, merece ser pensada como método formativo e como uma prática pedagógica e estética. A disciplina que abriga essa prática entende a cena como laboratório para professores em formação; ver a mística em funcionamento é, portanto, observar uma pedagogia em ato.

Vou falar um pouco de tudo o que foi pedido nas orientações da disciplina começando pela mística porque em poucas cenas e gestos podemos ver que ela conseguiu juntar muita tensão que estava presente ao longo de toda a mostra do Terra em Cena. As memórias pessoais, a política, as técnicas de teatro e o trabalho coletivo. Não foi só pra gente se divertir e bater palmas, pois uma mecanismo de pedagogia vivo que colocou lado a lado o público, os atores, o cotidiano e o espetáculo, tudo de um jeito simples, com leitura, com narrativas dos objetos apresentados e isso tem que ser pensado como um método formativo de professores e professoras. A disciplina que tem esse tipo de prática entende as cenas como um trabalho para professores que pensam em transformar a realidade das comunidades e ver a mística funcionando é observar a pedagogia em cena.

Antes de mais nada, é preciso delimitar o uso do termo. Quando falo “mística” não me refiro a algo esotérico, mas a uma sequência ritualizada de procedimentos que cria um limiar: de um lado, pessoas dispersas; do outro, um coletivo atento. Essa travessia tem efeitos tangíveis: prepara o público para escutar, desloca a distância entre palco e plateia e institui um código de relação que é ao mesmo tempo estético e ético. Ao atravessar esse limiar, entram em cena formas de convivência que, em sala de aula, podem ser ativadas para produzir escuta e participação.

A mística é uma prática comum nos assentamentos do movimento dos trabalhadores sem terra (MST) e foi levada para o nosso curso da LEdoC porque faz parte da história da nossa licenciatura, que foi um curso formado a partir de muitas lutas e que o MST participou de forma ativa na construção. Mística não tem a ver com nada de esotérico ou mágico, apesar de ter alguma magia na hora de apresentar e o que isso representa para quem está envolvido, mas são procedimentos, ensaios, intenções preparadas com a intenção de se chegar a um fim político a partir da arte, por meio do trabalho coletivo. As pessoas que assistem a mística escutam, a distância entre o palco e os espectadores fica menor, e tem uma relação direta que pode ser ao mesmo tempo considerada estética e com função ética. Quando entendemos e vivemos isso começa a entrar nas cenas a convivência, os motivos da sala de aula, a participação dos grupos, etc.

O roteiro da mística organizou esse limiar por meio de três operações complementares. A primeira foi a leitura de notícias e trechos que colocavam a atualidade no centro do gesto trazendo o macro para o espaço imediato. A segunda foi a circulação de objetos pessoais como pilão, caneta, cabaça, garrafa, o boi bumbá ,livro, mochila e pá que acionaram memórias e saberes situados. A terceira operação foi a pergunta final “e você o que você trouxe para 7° mostra”, aberta, que convocava a resposta do público e fechava o circuito tornando a experiência coletiva. Conjugadas, essas operações criaram uma ponte entre o que é público e o que é íntimo, ensinando, de modo prático, a relação entre contexto social e experiência individual.

As apresentações da mística estavam bem organizadas e cada uma completando o sentido da outra. A primeira foi uma leitura de notícias e trechos que traziam aquilo da atualidade para os gestos, trazendo o mundo todo para um espaço pequeno. A segunda foi os objetos circulando e ganhando voz.

Análises teóricas possíveis ajudam a dar contorno a essa leitura. Penso a mística na intersecção de quatro  matrizes: o teatro dialético, que busca evidenciar contradições e provocar reflexão; o Teatro do Oprimido, que transforma espectador em agente; e práticas de educação popular, que colocam saberes cotidianos como fonte legítima de aprendizagem, o teatro agitprop, que busca mobilizar o público e por último o teatro cultura popular, que usa a linguagem acessível e busca estimular as reflexões e fortalecer a identidade cultural (que foi o que fizemos quando utilizamos o pilão, cabaça, pá e outros elementos que representam a cultura popular). A mística não replicou fielmente nenhuma dessas formas, mas operou em diálogo com elas: evidenciou tensões, convidou à intervenção e valorizou os saberes locais. Para a formação docente, isso implica uma demanda clara: não basta ensinar técnicas, é preciso treinar procedimentos que tornem sensível a relação entre o vivido e o pensado.

Momento de apresentação da mística  (arquivo pessoal) 

Momento de apresentação da mística (arquivo pessoal)


segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Reflexões de estudantes da LEdoC sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

Toró: Memória, Terra e Resistência na Cena Popular do Grupo Fuzuê 

Amanda Araújo da Mata

A apresentação da Peça Toró, do grupo Fuzuê, foi uma experiência marcada pela força da ancestralidade, da memória e da resistência. Conduzida por duas mulheres, a peça começa com uma afirmação simbólica profunda: não haveria homens no palco, mas suas presenças surgiriam através das histórias, das marcas de violência, das lutas e dos impactos que deixaram na vida das mulheres, das famílias e das comunidades. Essa escolha dramatúrgica já anuncia uma atuação voltada à centralidade da mulher como corpo narrador aquela que guarda, lembra, denuncia e reconstrói o que muitas vezes é silenciado pela sociedade.

Ao longo da apresentação, as atrizes trazem relatos que atravessam diferentes tempos: o período da escravização, o pós-abolição, a modernidade desigual e o presente marcado por conflitos sociais. A peça costura essas temporalidades para mostrar que a injustiça no Brasil não é acidental, mas sim estrutural. E é nesse fio que um dos temas mais fortes aparece: a luta pela terra. Essa luta é apresentada como símbolo de sobrevivência, continuidade e direito humano básico, algo que historicamente sempre foi negado aos povos negros, indígenas e camponeses. As atrizes falam com intensidade sobre a terra como lugar de vida, sustento, identidade e pertencimento. Recordam que, desde os tempos coloniais, possuir terra no Brasil é possuir futuro. Apesar disso, a história do país foi construída sobre a concentração fundiária e o impedimento de acesso à terra para a maior parte da população. Esse desequilíbrio histórico, mostrado na peça, não é apenas uma memória distante: ele continua vivo nos dias atuais, refletindo-se nas desigualdades sociais e no constante impedimento para que famílias camponesas conquistem seu espaço de trabalho e moradia.

É nesse ponto que a Peça Toró dialoga profundamente com a realidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O espetáculo aborda a forma como inúmeras famílias lutam para conquistar um pedaço de terra onde possam viver e produzir. O MST surge como símbolo da resistência contemporânea, enfrentando inúmeras formas de criminalização, preconceito e violência institucional. Assim como narrado em cena, a luta pela terra não é apenas por território físico, mas pela possibilidade de existir de forma digna. Cada família que tenta acessar a terra carrega uma história de enfrentamento às estruturas que há séculos buscam impedir a autonomia do povo.

A peça articula essas histórias de expulsão, violência e resistência com a realidade atual, revelando como a terra sempre foi tratada como mercadoria e instrumento de poder. Ao mesmo tempo, mostra que quem produz a terra, quem cuida dela, quem a transforma em alimento, permanece sendo a parcela mais oprimida da sociedade. Essa contradição histórica é exposta no palco com sensibilidade e força, lembrando o público de que o direito à terra é também o direito à vida.

Outro ponto central é a forma como a peça evidencia que essas lutas recaem majoritariamente sobre as mulheres. São elas que carregam o peso da resistência diária: mães, avós, filhas e trabalhadoras rurais que vivem na linha de frente das opressões. Na peça, elas aparecem como protagonistas da memória coletiva, responsáveis por preservar tradições, histórias e identidades mesmo em meio a tempos de intensa dificuldade. Assim como no mundo real, são elas que seguram a comunidade quando o peso das injustiças tenta destruí-la. Transformam dor em movimento, silêncio em voz e perda em força.

Além disso, a Peça Toró provoca uma reflexão sobre como a arte é uma das poucas ferramentas capazes de confrontar a violência simbólica que permeia a história do Brasil. Quando as atrizes narram as dores, as perdas e os enfrentamentos das comunidades, elas não apenas relembram o passado elas expõem feridas ainda abertas. A encenação mostra que a memória é um ato político, um modo de resistir às tentativas de apagar as histórias do povo negro e camponês. Ao transformar essas experiências em arte, o grupo Fuzuê afirma que a cultura é também um território de luta.

Outro aspecto marcante é a forma como o corpo das atrizes é usado como instrumento de memória, denúncia e cura. Cada movimento, cada gesto, cada pausa carrega significados que ultrapassam a palavra dita. O corpo aparece como espaço de ancestralidade e, ao mesmo tempo, como campo de disputa. Na luta pela terra, na resistência das mulheres e nas contradições reveladas pela peça, o corpo é o primeiro território a ser violado e o último a desistir. A corporeidade em Toró dialoga com os movimentos sociais do campo, que também colocam seus corpos na linha de frente como ato de sobrevivência. A peça também desperta uma reflexão mais ampla sobre o que significa ser comunidade. O grupo Fuzuê evidencia que não há luta pela terra sem coletividade, sem partilha, sem união. Em diversos momentos, as narrativas mostram que o individualismo é uma construção imposta, enquanto a vida comunitária é o que realmente sustenta o povo. Essa compreensão se conecta diretamente às práticas do MST, em que a coletividade é central: cozinhas comunitárias, mutirões, assembleias, creches e escolas construídas pelo próprio povo. Toró não apenas retrata essa lógica, mas a reafirma como caminho possível para um futuro mais justo.

Outro ponto que se destaca é a crítica à forma como o poder econômico controla não só a terra, mas também a memória e a narrativa oficial do país. Ao falar das desigualdades históricas, a peça questiona quem são os donos da terra, mas também quem são os donos da história. O espetáculo propõe recuperar narrativas apagadas, dar nome e voz a pessoas que foram silenciadas pelo sistema colonial e capitalista. Ao recontar essas histórias, a peça cria fissuras na narrativa dominante e abre espaço para que o público enxergue o Brasil a partir de outras lentes as lentes do povo. Por fim, Toró também nos convida a pensar sobre a permanência aquilo que resiste mesmo quando tudo desaba. A chuva forte, o toró, pode ser metáfora da destruição, mas também da fertilidade. Depois da tempestade, a terra respira, floresce, renasce. Assim é o povo retratado no palco: mesmo diante da violência, da exclusão e da negação de direitos, continua plantando, cuidando, construindo e sonhando. A peça mostra que resistir não é apenas sobreviver; é continuar imaginando o que ainda não existe. E é justamente nessa imaginação que nasce a possibilidade de transformar o mundo.

Assim, a peça não se limita a mostrar injustiças; ela denuncia e convoca. Toró funciona como um espelho da realidade, trazendo à cena aquilo que muitas vezes é silenciado na sociedade. Ao relacionar a luta pela terra com a trajetória histórica do povo brasileiro, o grupo Fuzuê nos lembra que a arte é essencial para compreender e transformar a vida. Ela nos força a revisitar nossas raízes, reconhecer as violências que ainda moldam o país e entender que a luta pela terra é também luta por dignidade, por comida, por educação, por futuro e por humanidade.

Ao final, o público não recebe apenas um espetáculo, mas um chamado para refletir sobre as desigualdades que sustentam o Brasil e sobre a importância da resistência coletiva. Peça Toró, ao trazer à tona essas questões, reafirma que a memória não é estática ela pulsa, se movimenta e cria novas possibilidades de existir. A luta pela terra, o papel das mulheres e a força das comunidades camponesas se unem no palco para lembrar que, enquanto houver injustiça, haverá também resistência .

Apresentação da peça "Toró" no auditório Augusto Boal

Processo de construção e execução da mística da VII Mostra Terra em Cena e na Tela

Dolores da Conceição Santos

A 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela, sob a coordenação do Professor Rafael Villas Bôas (UnB), representa um marco de excelência e experimentação no teatro. Este projeto, desenvolvido no âmbito da disciplina Processo Experimental no Teatro 1, busca ir além da performance convencional. Ele se estabelece como um espaço de criação coletiva e cultural, onde a mística atua como ferramenta potente.

A 7ª Mostra é fundamental para promover um diálogo direto com coletivos teatrais de todo o Brasil, especialmente os influentes grupos de São Paulo e muitos outros estados. Demonstra-se, assim, uma rica tapeçaria de formas de expressar a arte e a política. Ao adotar essas inspirações, a Mostra materializa o conceito de ocupação dos espaços da Faculdade UnB Planaltina, transformando o campus em um palco vivo e pulsante de experimentação, aprendizado e resistência cultural, refletindo as diversas vozes e métodos do teatro brasileiro contemporâneo.

O processo de construção e execução da mística da VII Mostra Terra em Cena e na Tela considerou a mística como um processo coletivo de recuperar a memória da infância, adolescência, na sua cidade em que nascemos, então nessa construção nos primeiros ensaios tinhamos que pensar em um objeto, que lembrasse nossas memórias. De primeira pensei no objeto chapéu, ainda comentei sobre ele, mas relembrando as minhas memórias na vida do campo onde nasci no estado do Maranhão, já começando trazendo a lembrança do passado. Continuando e ensaiando com os colegas, cada um já escolheu seu objeto, começando com pilão, caneta, mochila, uma escultura de oficina de barro, violão pra alegrar mais a mística, chapéu, como falei, comecei com esse pensamento, mas não ainda estava segura com esse objeto chamado chapéu.

Aí o professor Rafael apareceu com um boi pequeno, quando o vi veio uma lembrança viva na minha infância e adolescência e vida adulta na minha família. Meus pais, uma tradição folclórica do mês de junho, eles faziam uma apresentação do Bumba Meu Boi com grupo de pessoas, tinham as índias que eram vestidas de roupas de penas fabricadas pelas próprias, as músicas eram muito divertidos e mais um homem que ficava dentro do boi que dançava e cada hora trocava de couro que era bordado de miçanga, então foi de grande importância relembrar tudo aquilo, parecia que estava vivendo naquela época.

Na 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela teve uma apresentação oral do jornal lido pelos colegas e pelo professor, as notícias do Jornal Correio Braziliense, jornal da cidade, com reportagem sobre o ex-presidente da República, sobre o golpe de estado e outras notícias. Tudo isso que aconteceu na mística foi muito produtivo e cultural, representação viva e de grande aprendizado. Uma prática inédita, uma participação inédita e um público assistindo a nossa apresentação sobre as nossas memórias, com cada uma de nós trazendo uma lembrança diferente. E tudo que aconteceu sobre a 7ª Mostra ficou marcada em uma lembrança que jamais esquecerei.

Aquele público aplaudindo a nossa apresentação, a todos nós, também com aquele olhar de felicidade e de grande entusiasmo... E eu fiquei muito mais feliz por aquele boi pequeno que apareceu na minha frente. Fiquei tão feliz que parecia uma criança ganhando um presente de Natal, que até agora não consigo esquecer aquele momento de ver aquele objeto chamado boi, que foi a vida e tradição muitos e muitos anos na minha família, até meus pais falecerem. Foi uma realização maravilhosa que nunca esquecerei. O professor Rafael está de parabéns por essa iniciativa, por essa mística que nos proporcionou à nossa turma para esta disciplina Processo Experimental no Teatro 1. Foi um processo excelente, criativo e cultural, um presente que nos presenteou que vai ficar na memória, que voltou aos nossos tempos que vivíamos com a nossa família humilde de 17 irmãos.

Chegamos ao fim de cinco dias intensos de arte, experimentação e profundo aprendizado na 7ª Mostra Terra em Cena e na Tela. Este período foi marcado por uma rica diversidade de cenas, oficinas e apresentações de vários coletivos, que transformaram os espaços do campus da UnB de Planaltina.

A 7ª Mostra cumpriu seu papel vital ao dar visibilidade e palco às representações dos movimentos sociais, focando em narrativas que tocam diretamente nas realidades que compartilhamos. Foi especialmente significativo o destaque dado às vivências urbanas periféricas, que frequentemente permanecem isoladas ou invisibilizadas na sociedade. O teatro se provou, mais uma vez, uma ferramenta essencial para romper esse isolamento e construir pontes de entendimento.

Expressamos nossa sincera gratidão a todos os professores pela coordenação impecável e pelo apoio contínuo. Agradecemos também aos estudantes, cuja dedicação, coragem e talento foram a força motriz que deu vida a cada performance e debate. Esta Mostra não é apenas um evento, mas um ato coletivo de resistência e celebração da nossa diversidade.

Imagem de Dolores da Conceição com o boi, em ensaio no teatro Augusto Boal.

Crédito da foto: Rafael Villas Bôas



sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Reflexões de estudantes da LEdoC sobre a VII Mostra Terra em Cena e na Tela

O que vi, senti e aprendi: uma análise pessoal da VII Mostra Terra em Cena e na Tela 

Lara Monteiro Abreu

A VII Mostra Terra em Cena e na Tela aconteceu na Faculdade UnB Planaltina nos dias 26 à 29 de novembro de 2025, iniciando com o sarau artístico e seguindo de oficinas de muralismo, teatro, cerâmica e audiovisual, além de apresentações de peças, filmes e debates que contribuem no processo social e formativo dos estudantes da FUP. Eu, como discente no curso de Licenciatura em Educação do Campo e, também artista, considerei esse evento bastante produtivo no sentido de entender diferentes maneiras de como a arte pode ser política e contribuir para desenvolver pensamentos críticos na sociedade, e particularmente foi um momento motivador, que mexeu internamente com o corpo e com a minha mente, me inspirando a entrar ainda mais neste mundo artístico. 

Nesses dias, também fiquei responsável por algumas gravações do evento, devido a disciplina do professor Felipe Canova “Processo experimental em Audiovisual I”, em que faremos um documentário sobre alguns momentos e cenas da Mostra. Logo, pude observar todas as oficinas que aconteciam simultaneamente, realizar entrevistas, e gravar detalhes das cenas e das rodas de conversa que as peças geravam.

O evento foi iniciado com o sarau, que aconteceu a noite, com a coordenação do professor Paulo Henrique Vieira. Neste dia, fiquei responsável para auxiliar no som. E por eu ser artista, mais voltada para o âmbito musical, também apresentei algumas músicas autorais durante a noite. Foi um momento interessante, pois tenho apreço por organizar eventos culturais e movimentar a FUP.

O sarau começou com a Lavagem no prédio Paulo Freire, que é um momento de ritual de purificação misturando elementos do catolicismo com o candomblé, seguido de um cortejo aos sons de palmas, atabaques e cânticos de origem africana, até a entrada do Restaurante Universitário, onde aconteceria o restante do sarau. Por volta das 19h aconteceu a abertura da VII Mostra com a apresentação da peça “Cotidiano” do grupo Cenas Emendadas, com a direção da Bárbara Reis, que elaborou uma cena ainda em construção sobre a violência contra a mulher. O sarau seguiu após a peça, com um desfile de moda Afro-Raízes da Resistência, apresentando materiais desenvolvidos pelo estilista e calouro de Licenciatura em Educação do campo, Tainam Malta. Após o desfile, iniciaram as apresentações musicais e as recitações de poemas, seguindo assim até o encerramento da noite.

No dia seguinte a mostra iniciou com uma mística realizada por nós, estudantes da turma “Processo Experimental de Teatro I”, ministrada pelos professores Rafael Villas Bôas e Simone Menezes. Esse processo da construção e execução da mística foi bastante enriquecedor no ponto de vista de desenvolver alguma ideia de forma coletiva e em tão pouco tempo. Foram duas tardes para elaborar as ideias, ensaiar e no dia seguinte apresentar. No primeiro dia, pensamos nos lugares possíveis para realizar a mística, pois o clima estava chuvoso. A ideia inicial era realizar no teatro arena, tanto que nosso primeiro ensaio foi neste espaço, mas devido a chover bastante durante à noite, decidimos alterar para dentro do auditório Augusto Boal.

Eu gostei bastante da dinâmica de como a mística se construiu. O professor pediu para pegarmos um objeto em que te representasse de alguma forma, e a partir daí fomos conversando sobre esse objeto e o porquê a escolha dele. Foi um momento de trocas, de conversas, de interações que cada um dos itens escolhidos despertava nas pessoas. Logo, um pilão que representava a memória da história de infância da Maria, ainda é um objeto presente na comunidade da Cleuzirene, e foi muito utilizado pela família da Ana Rúbia para fazer paçoca. A Cabaça também foi outro objeto que trouxe várias histórias e interações, sobre seus diferentes usos e nomes em cada região. Foi um momento bem bonito e decidimos levar isso para a mística.

Outra ideia foi procurar algum jogo teatral que aprendemos em algumas das aulas dos semestres anteriores, que coubesse na abertura do evento. Ensaiamos brevemente o Homenagem a Magritte, jogos com bolas de tênis, até chegarmos à conclusão de iniciar a mística com o Jornal Mural, trazendo algumas notícias atuais.

No dia da apresentação da mística, tinha ficado bastante ansiosa até porque ia tocar uma música de minha autoria, descendo as escadas do auditório até chegar no palco, e por mais que eu ame me apresentar, fico muito insegura. Mas foi lindo todo o processo, desde o Jornal Mural, com pessoal interagindo, em seguida falando dos objetos que trouxeram para a VII Mostra que foi emocionante, e depois eu cantando minha música para todos no auditório, foi um momento especial que quero sempre lembrar com carinho. A mística pode ser realizada por vários motivos, tanto em forma de denúncia, ou relatos, memórias, podem ter poemas, músicas, diferentes sons, etc. ações que geram um debate para ser discutido na mesa de conversa. E a nossa foi como uma forma de atualizar o pessoal com as notícias e também se sentirem bem vindos à FUP com a apresentação do VII Mostra Terra em Cena e na Tela. 

Imagem 1: Ensaio da Mística no teatro arena

Imagem 2: Ensaio da mística no Auditório Augusto Boal

 

Imagem 3 e 4: Apresentação da mística no Augusto Boal

O dia seguiu com as oficinas espalhadas em diferentes lugares da universidade. A de teatro seguiu no auditório Augusto Boal, a de cerâmica na sala de artes, a de audiovisual no auditório 3 e a de muralismo no alojamento da universidade. Eu me inscrevi para a de muralismo, mas por estar na gravação do documentário, consegui participar um pouquinho das outras. A de teatro, quando cheguei, estava realizando várias atividades de corpo e jogos teatrais, alguns eu conhecia por já ter realizado em sala de aula pelo professor, mas outros foram novidade. A de cerâmica já é algo que está presente na FUP todas as quartas, logo, foi o que fiquei menos tempo pois já conheço o procedimento e é algo bastante relaxante de se fazer. Na de audiovisual, falaram sobre construção de documentário e foi algo interessante pois estava no processo de um. E ao final, a de Muralismo, que estava reconstruindo o mural desenhado pela turma 3 da LEdoC e que foi apagado recentemente devido a obra. Foi um momento muito bonito de reconstrução e reafirmação da importância que os murais têm em guardar memórias das turmas que já caminharam pelo curso.

O evento seguiu no período da tarde com a mesa sobre Agroecologia e Cultura, e um debate sobre a Conjuntura e Estratégias dos Movimentos Sociais. À noite, a segunda apresentação foi a peça “Toró”, do coletivo Fuzuê (UFSJ/MG) e para encerrar uma mostra audiovisual, com a exibição de alguns curtas produzidos pelo coletivo Terra em Cena.

No dia 28 pela manhã, foi apresentada a peça “Padrão” do Coletivo Encena Kalunga, de Cavalcante (GO). Essa peça foi inicialmente construída na disciplina Pedagogia do Teatro, ministrada pelos professores Rafael e Pedro Ribeiro, em que foi criada pelas estudantes Aparecida, Lucilene, Roseane e Thaís. As estudantes Nelma, Hiory e Brenda entraram na reprodução das cenas com as adaptações finais, que foi apresentada no auditório Augusto Boal. Ainda pela manhã, foi o momento de finalizar as oficinas que haviam iniciado no dia anterior.  No período da tarde, houve um debate sobre as linhas de pesquisa do Terra em Cena e ao final a apresentação da peça “Plataforma” do Cia Estudo de Cena (SP). Essa peça Plataforma me tocou bastante no sentido de trazer imagens de momentos de resistência dos trabalhadores relacionados com a atualidade. Fiquei vidrada do início ao fim com a atuação, com a construção das cenas e a sincronia que as atrizes estavam em todo momento. Foi bem interessante.

No sábado, o evento continuou pela manhã com a exposição de banners das escolas do campo do DF e uma mesa de abertura sobre “A escola do campo como centro popular de cultura”. Infelizmente não consegui participar dessa mesa, pois no mesmo horário aconteceu uma premiação de melhor trilha sonora no filme construídos pelos os alunos da escola que realizei o estágio, logo foi um momento especial na instituição e que não poderia perder. Mas, em seguida, voltei para a FUP e consegui assistir uma parte da peça “Aurora” de Cia Burlesca. Fiquei encantada com o trabalho da atriz Julie Wetzel, sozinha em cena ela consegue fazer tantos papéis diferentes e conseguir apresentar a educação como forma de emancipação e resistência contra a exclusão, e conectando a história de alfabetização em Cuba com a realidade brasileira. Foi uma peça incrível, que mexe com o espectador ou “espect ator” que ao invés de só assistir, ele age e reage sobre determinado tema.

No geral, participar da VII Mostra Terra em Cena e na Tela foi muito mais do que acompanhar quatro dias de apresentações, foi um momento de aprendizado intenso que seguirei levando nos dias afora. Foram momentos de imersão no teatro não como forma de espetáculo, mas como uma ferramenta política e pedagógica, em que faz compreender o papel da cultura na sociedade. Foram dias de trocas, de encontros, peças e atividades carregadas de crítica social colocando em pauta as contradições do sistema capitalista, e mostrando a educação emancipadora e a arte no lugar de resistência e de diálogo, atuando como um método de transformação social.


Imagem 5: Eu gravando a oficina de muralismo

 

imagem 6: Apresentação da peça “Plataforma” - Cia Estudo em Cena


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magem 7: Apresentação da peça “Aurora” - Cia Burlesca